terça-feira, 2 de março de 2010

HISTÓRIA - Boeing 767 X Dragster

Já fizeram até filme sobre o ocorrido abaixo, mas o relato consegue
(como sempre) ser melhor do que o filme.

Trata-se da história de um Boeing 767 da Air Canadá que recebeu menos
combustível do que o necessário para o voo por causa de uma confusão de
unidade de medida (lbs X kg).
O piloto, experiente planador, conseguiu dirigir a aeronave gigantesca
para uma pista militar inservível. O que não contava é que a pista havia
sido transformada em autódromo.


Segue o texto e uma foto:

Gimli, uma antiga e abandonada base da Real Força Aérea Canadense, a
cerca de 22 Km, era sua última chance de um pouso em uma pista de
aeroporto. Como era uma base e ainda por cima desativada ela não
constava do guia de aeroportos que as aeronaves levam a bordo, mas
Quintal a conhecia bem uma vez que antes de ser piloto comercial ele
tinha servido na Força Aérea e, por coincidência, naquela base!

O que ele não sabia nem os controladores em Winnipeg é que a pista 32L
(esquerda) com uma extensão de 2.000 metros foi convertida em pista de
corridas para automóveis e uma parte dela em uma pista para dragster com
a colocação de um guard-rail no meio da pista para fazer duas pistas
paralelas para a realização desse tipo de corridas.




Mas no dia 23 de abril era dia de confraternização familiar do Automóvel
Clube de Winnipeg, e as corridas de dragster eram as únicas que não
faziam parte do programa. Na outra parte da pista havia uma corrida de
Fórmula Ford, e ao redor e nas laterais comprimiam-se barracas de
lanches rápidos, souvenirs, etc, com uma multidão de pessoas circulando
entre elas. Nas cabeceiras e áreas próximas, havia estacionamento de
carros, trailers e motor-homes. Pousar um avião no meio desta atividade
era um desastre certo!
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/2/24/Gimli_glider.JPG
Sem saber nada disso, Pearson e Quintal tomaram o curso da pista 32L de
Gimli e continuaram seu planeio rápido. O vôo 143 logo desapareceu da
tela de radar de Winnipeg, e os operadores passaram a enviar via radio a
informação sobre o número de vidas a bordo.

Quintal suspeitou que Pearson não tinha visto ainda o guard-rail na
pista nem os carros e pessoas ao longo dela, mas nesse ponto já não
havia mais nada a fazer. Um planador só tem uma chance para pousar, já
que não possui motor para uma nova tentativa, e esse era o caso agora.
Quintal achou melhor permanecer calado. Porque Pearson elegeu a pista
32L ao invés da 32R? Gimli não tinha controle de tráfego aéreo e
portanto ele tinha que confiar em procedimento visual. A pista 32L era
um pouco mais larga, tendo sido a pista principal no passado. Os postes
e luzes de orientação do tráfego aéreo ainda levavam à 32L.


O "X" pintado na pista 32L, indicando sua inatividade já estava meio
apagado. Tendo tomado a decisão de pousar na 32L e devido a grande
separação entre as pistas seria impossível para o piloto mudar sua
decisão no último momento. Pearson disse que ele "Nunca sequer olhou
para a 32R, concentrando-se somente na velocidade, altitude e na
aproximação com a 32L".

O 767 silenciosamente nivelou e os trens principais tocaram a pista,
enquanto crianças e espectadores "voavam" para fora da pista. O
gigantesco Boeing 767 estava se transformando nesse momento em um trator
prateado de 132 toneladas. Um sócio do Automóvel Clube vinha andando
pela pista de dragster com um galão de combustível de alta octanagem
quando viu o 767 vindo em sua direção. Pearson aplicou os freios assim
que as rodas tocaram o solo. Uma explosão foi ouvida na cabina de
comando quando dois pneus dos trens principais estouraram.

O trem dianteiro, que não estava travado, dobrou-se totalmente e o nariz
bateu contra o concreto e começou a lançar uma esteira de fagulhas. A
carenagem da turbina da asa direita também bateu contra o concreto. O
767 atingiu o fim da pista de dragster e o nariz quebrou os suportes de
madeira do guard-rail no meio dela. Pearson aplicou mais freio no lado
direito forçando o trem principal a raspar no guard-rail. E ele começou
a pensar: “Será que os espectadores e fãs das corridas teriam tempo
suficiente para se afastarem da pista, ou ele teria que forçar o enorme
jato para fora da pista para evitar atropelá-los?”

O 767 finalmente parou com o nariz no chão, sobre os trens principais e
a carenagem da turbina direita também tocando o solo a apenas algumas
dezenas de metros dos espectadores e suas grelhas de churrasco e
barracas de camping. A fuselagem estava intacta. Dentro do avião, por um
instante houve silêncio.

Pearson tocou o solo cerca de 250 metros após a cabeceira e utilizou
meros 1000 metros de pista para parar o 767, o que para um avião de 132
toneladas é um espaço muito curto. Um piloto de um avião civil que
sobrevoava o aeroporto naquele momento e assistiu a tudo classificou de
"impecável" o pouso de Pearson. O Boeing 767 ficou muito pouco
danificado com o pouso e foi reparado ainda na pista do aeroporto de
Gimli, de onde saiu voando apenas dois dias após.

A partir de então, o Boeing 767 de número de série 604 passou a ser
conhecido na Air Canadá como o Planador de Gimli.

Nenhum comentário:

Postar um comentário